Um dia, representando, enfim, parti um ossinho do pé. Durante alguns anos vivi com um grupo de teatro um casamento que deu em divórcio, mas sem privacidades discutidas em público. No meu quotidiano de então - e no cartão do Sindicato estava escrito que eu era dramaturgista - tentava harmonizar as necessidades de criação literária com as vontades de criação teatral do grupo e que faziam apelo à minha participação também como actor em algumas das suas aventuras, para além de outras responsabilidades. Foi uma bela iniciação. Mas vem isto a propósito de ter partido um ossinho do pé enquanto estava em função. Andei ainda uns dias represenatdo assim, o ossinho fazendo doer como um pormenor caricato a criar desentendimento, e finalmente decidi visitar o hospital muito coxo e chateado. Ao guichet, uma senhora, simpática funcionária, pediu-me os dados para a identificação.
Depois do nome
- Profissão ?- perguntou.
E eu, hesitando um mpouco, respondi
- Dramaturgista.
E disse ela
- Isso é especialidade de psiquiatria, não é? Entre, entre, faça favor de entrar, senhor doutor!
Abel Neves,
in Algures entre a resposta e a interrogação
em volta do teatro
p.16
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