12/11/2007


Clov... (Pausa)
Clov. (Pausa)
Clov... (Pausa)
Clov ( Pausa muito longa )
Clov sou eu.
É a minha vez de jogar. Clov. Clov... (Pausa)
Sou eu!
Cheiras mal... É a minha vez de jogar, Clov... (pausa)
Pode haver maior miséria do que a minha? Sem dúvida. Dantes, mas hoje? O meu pai? A minha mãe? O meu cão? Acredito que eles sofrem tanto quanto tais seres podem sofrer. Mas quer dizer que os nossos sentimentos valem a pena? Sem dúvida. (Pausa) Não! tudo é absoluto. Quanto mais crescemos mais satisfeitos estamos... e mais vazios. Clov (pausa) Clov! Não estou só... Ajuda-me, vou-me deitar.
(Imitando a voz de Clov) Não posso deitar-te e levantar-te de 5 em 5 minutos. Tenho que fazer. (Ri-se. Troça da brincadeira. Pausa.)
Nunca viste os meus olhos. Nunca tiveste curiosidade enquanto eu dormia, de me tirares os óculos e veres-me os olhos? Ah, parece que são totalmente brancos.
Que horas são? Viste ? E quê? Era bom que chovesse!
Além disso vai tudo bem? Sentes-te como sempre? Eu sinto-me um bocado esquisito. Clov, não estás farto? Eu também estou farto deste assunto. ( Pausa ) Sinto que a Natureza se esqueceu de nós. ( ri-se) Não há natureza?!! Que exagero! Nós respiramos, mudamos. Cai-nos os cabelo, os dentes, a nossa frescura... os nossos ideias. Nunca ninguém pensou de uma maneira tão retorcida como nós. Não há natureza?!!! Ah! Aposto que nunca viste os meus olhos. Qualquer dia mostro-tos. Parece que são totalmente brancos.
Que horas são? Era bom que chovesse!! É isso.
É a minha vez de jogar.
Uma verdadeira tristeza se apodera de nós. Todos aqueles que eu poderia ajudar. Salvar! Mas pensem bem, pensem bem, vocês estão na terra, é inevitável! O fim está no princípio e no entanto continuamos.
Talvez possa continuar a minha história, acabá-la e começar outra.


Texto original : Samuel Beckett
Dramaturgia: Liliana COsta
Cenografia: Alice ( ? )
Interpretação: Liliana Costa e Miguel Raposo.
Fotografia: Joana CApucho.

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