17/01/2010

Ela senta-se a uma mesa. Ela nunca o viu, e ainda mais do que ele nunca a viu a ela.
Ela olha-o. É inevitável. Está só, é belo e está cansado de estar só e tão belo como qualquer pessoa a morrer. E chora.
Para ela, ele é tão desconhecido como se não tivesse nascido. Ela deixa as pessoas com quem está. Vai para a mesa desse que acaba de entrar e que chora. Senta-se em frente dele. Olha-o.
Ele não vê nada dela. Nem que as suas mãos estão inertes sobre a mesa. Nem o sorriso desfeito. Nem que ela treme.
Que tem frio.

Ela ainda nunca o viu nas ruas da cidade. Pergunta-lhe o que tem. Ele diz que não tem nada. Nada. Ela que não se preocupe. A doçura da voz que de repente rasga a alma e podia fazer pensar que.
Ele não consegue deixar de chorar.
Ela diz-lhe:Gostava de o impedir de chorar. Ela chora. Ele não quer realmente nada. Não a ouve.
Ela pergunta-lhe se ele vai morrer, se é isso que tem, vontade de morrer, ela talvez podesse ajudá-lo. Queria que ele continuasse a falar. Ele diz que não, nada, ela que não preste atenção. Ela não pode fazer outra coisa, e fala-lhe.

Marguerite Duras, in OLhos azuis cabelo preto, p.11

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